As smart clothes, ou roupas inteligentes, ainda estão num limiar entre nos trazer uma tecnologia realmente útil e específica para cada tipo de vestimenta (como um conjunto de sungas e maiôs com sensores que indicam quando é necessário passar novamente protetor solar e que enviam notificações para os smartphones dos pais quando as crianças se aproximam demais do mar) e apenas mais do mesmo, mas em outro formato (como roupas que conectam ao smartphone e conseguem medir os batimentos cardíacos e temperatura do corpo, basicamente oferecendo as mesmas opções que qualquer pulseira fitness). Mesmo assim, muitas empresas e laboratórios de pesquisa apostam no desenvolvimento de roupas inteligentes será mesmo o futuro da moda, e alguns desses novos projetos tem o potencial de facilmente agradarem até mesmo um público que normalmente não está tão preocupado com as últimas novidades tecnológicas.
Roupas inteligentes: escolha sua cor
Um desses projetos está sendo desenvolvido pela Universidade da Flórida Central (EUA), que criou um tipo de tecido que pode mudar de cor sempre que o usuário desejar. Esse tecido usa uma mistura de fios de malha padrão com fios elétricos finíssimos, e esses fios conduziriam uma corrente elétrica através do tecido. Essa corrente seria baixa demais para ocorrer qualquer risco de choque na pessoa que está vestindo a roupa, mas seria o suficiente para acionar alguns pigmentos que modificariam a cor da roupa. Esse comando para a mudança da cor seria enviado diretamente pelo celular do usuário, através de um app específico que permitiria que a pessoa escolha exatamente qual é a cor que ela deseja usar naquele momento. Como essa tecnologia não depende de sensores ou qualquer coisa do tipo, já sendo embutida na própria malha, praticamente qualquer peça de roupa ou acessório poderia ser feita utilizando esse tipo de tecido, permitindo a confecção de camisetas, bermudas, bonés, bolsas e praticamente qualquer outra peça de vestuário capaz de mudar de cor instantaneamente a partir de um simples comando no celular. Por enquanto ainda não há uma previsão de quando essa tecnologia estará disponível para o público, mas os cientistas que a desenvolveram já fecharam uma parceria com a WETESO, e acreditam que em cerca de dois anos os primeiros produtos confeccionados com este tecido poderão ser encontrados nas lojas.
Roupas inteligentes: ar-condicionado pessoal
Em regiões de muito calor, há dias em que precisamos sair de casa e tudo o que mais desejamos era uma forma de levar o ar-condicionado de nossas casas, carros e escritórios também para a rua. E é justamente isso que alguns cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT – EUA) estão desenvolvendo. Utilizando um processo de bioimpressão (algo similar à impressão 3D, mas que permite inserir microorganismos vivos em materiais sintéticos) para introduzir em tecidos a bactéria Bacillus subtilis. Essa bactéria, utilizada em processos de fermentação na culinária japonesa e sul-coreana, emite partículas que reagem ao calor e à humidade, e que são usadas pelos cientistas para controlar um sistema de “respiro” do tecido. Caso o corpo esteja muito quente, abrem-se diversos respiradouros no tecido, que ajudam a refrescar a pele e na liberação de calor para o ambiente. A grande vantagem é que, por ser um processo todo biocontrolado, não há a necessidade do uso de pilhas ou baterias para que o tecido funcione. Mas, infelizmente, ainda não há qualquer projeção de quando as primeiras peças utilizando esse tecido devem chegar nas lojas.
Roupas inteligentes: cyberpunk 2020
Com o avanço da tecnologia, uma das maiores preocupações de muita gente é a de viver em um estado de completa vigilância, em que câmeras espalhadas pelas ruas e estabelecimentos possam gravar a rotina diária de cada pessoa todos os dias, acabando de vez com o conceito de privacidade. É por isso que o artista e cientista Adam Harvey tem desenvolvido uma linha de roupas usadas para atrapalhar os dispositivos de vigilância. Essas roupas consistem de capuzes, parks e hijabs criados com uma malha de prata altamente flexível e que refletem refletem o calor do corpo, evitando assim que drones com câmeras térmicas (normalmente usadas em bombardeios) consigam identificar qualquer sinal de que temperatura que posso indicar a existência de uma pessoa no local. Outra criação nesse sentido é a da KOVR, que criou um sobretudo anti-vigilância que desativa todos os sinais de comunicação sem fio (como sinais de internet wi-fi), permitindo assim que, caso a pessoa passe por alguma câmera de vigilância, ela não consiga enviar a imagem captada para a base. Além disso, diversas empresas também estão desenvolvendo acessórios como guarda-chuvas, bolsas e chapéus que emitem um flash de luz intensa que confunde câmeras de vídeo e atrapalha a obtenção de fotografias.
Roupas inteligentes: bateria na ponta dos pés
Apesar de roupas e acessórios inteligentes se tornarem cada vez mais comuns, um dos maiores impeditivos para o uso constante desses produtos é a necessidade de ficar a todo momento conectando-os na tomada, já que muitas vezes o tempo de bateria deles não é suficiente para um dia inteiro de atividades. Mas, e se as pessoas literalmente andassem com uma bateria o tempo todo? Foi essa a solução imaginada pela SolePower, que criou um calçado que funciona como uma bateria portátil que consegue transformar cada passada em energia elétrica e armazenar essa energia para recarregar outros dispositivos eletrônicos. Ainda que essas botas ainda não estejam nas prateleiras das lojas, o produto já é funcional, e a empresa de Pittsburgh já possui um contrato com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos para usar essa tecnologia de forma a ajudar os soldados em campo e procura parceiros industriais que queiram testar essas botas em ambientes de trabalho pesado, como na construção civil. Mas este não é o único experimento que pretende transformar as roupas que usamos em fontes de energia: cientistas da Universidade do Estado da Carolina do Norte (EUA) estão desenvolvendo uma forma de transformar o calor emitido pelo corpo em energia elétrica que pode ser usada para alimentar computadores. Enquanto isso, pesquisadores do Grupo de Pesquisas em Nanociência da Universidade de Georgia Tech (EUA) estão desenvolvendo um tecido “solar-mecânico”, capaz não apenas de absorver a energia solar e transformá-la em energia elétrica como fazer o mesmo com os movimentos do corpo humano e até mesmo do vento, sendo uma ótima alternativa para trabalhadores que passam muito tempo ao ar livre e não possuem onde conectar seus equipamentos eletrônicos caso a bateria deles esteja acabando. Seja para uso cosmético, técnico ou para garantir uma maior privacidade, a realidade é que a tecnologia das roupas inteligentes é muito mais do que apenas uma curiosidade científica, e possivelmente irá modificar todas as nossas noções do que é moda nos próximos anos. E, quem sabe, logo não teremos a Paris Fashion Week entrando no calendário dos eventos imperdíveis de tecnologia. Fonte: Experience Magazine, SolePower, MIT Media Lab