O início de algo novo
A história do Nubank tem início no ano de 2013, quando o empreendedor colombiano David Vélez decidiu inovar e criar algo que pudesse ajudar as pessoas a se livrarem da burocracia dos grandes bancos. Segundo Vélez, tudo começou ao perceber que as redes bancárias dificultavam a vida das pessoas e que as suas práticas não eram as melhores. O empreendedor ainda lembra que ficou seis meses para abrir uma conta em um banco quando se mudou para o Brasil. Para ele, o consumidor não precisava passar por uma situação tão desconfortável assim. Com isso, Vélez passou a procurar sócios que estivessem dispostos a investir num novo negócio do segmento financeiro. Nesse contexto, surgiram Edward Wible e Cristina Junqueira, que juntos criaram o Nubank. Com um time enxuto e em uma casa alugada na cidade de São Paulo, o empreendimento nasceu com uma proposta simples: ser a melhor experiência bancária possível para seus clientes. Essa missão está bem explícita na própria descrição da empresa: “Você gosta de agência bancária? De fila? De esperar a sua senha? Se você gosta ¯_(?)_/¯. Mas se cansou disso tudo, conheça o Nubank: digital e 100% grátis”. A identidade da empresa foi estrategicamente pensada conforme o seu conceito. O termo Nu é uma forma de mostrar o quão transparente a empresa é. A ideia era que a novidade ajudasse a quebrar a concepção do modelo tradicional de banco. De mostrar que era possível, sim, se reinventar e oferecer um serviço fora dos moldes do mercado. De criar o novo. O primeiro lançamento da empresa foi um cartão de crédito internacional com a bandeira MasterCard. Como diferencial, o “roxinho” — apelido dado ao cartão roxo da fintech — já nasceu sem a cobrança de taxas ou anuidades. É verdade que, à primeira vista, o produto não era tão inovador assim, afinal, já existiam várias outras instituições financeiras que ofereciam cartão de crédito no mercado. Contudo, o Nubank pretendia ser um novo caminho para um antigo modelo de negócios. Por este motivo, decidiu trilhar o seu caminho no ambiente digital. Com o passar do tempo, a fintech foi lançando outros produtos, como conta digital com rendimento atrelado ao CDI, empréstimos, seguros de vida e celular, além de um cartão com anuidade e pontos para os clientes, além de, mais recentemente, ter lançado do seu próprio marketplace, plataforma que reúne ofertas de empresas como o Magazine Luiza, AliExpress e Dafiti. Ela também estreou em mercados internacionais, chegando ao México e Colômbia. Todas essas novidades foram fazendo do Nubank uma solução ainda mais completa — mas será que o suficiente para os seus clientes? Fato é que David, Cristina e Edward criaram um dos maiores cases de negócios disruptivos da história do Brasil. O que começou como uma frustração de Vélez, se transformou em um gigante alvo de aportes milionários nos últimos anos, a exemplo do investimento de US$ 500 milhões, realizado em junho do ano passado, pela companhia Berkshire Hathaway, do megainvestidor americano Warren Buffett.
A ascensão e o declínio
Com 54 milhões de clientes, o Nubank chegou a sustentar o título de instituição financeira mais valiosa da América Latina — posto que perdeu recentemente para o Itaú. E para continuar crescendo a um ritmo satisfatório, a empresa passou a investir na ampliação da sua oferta, tentando também alcançar outras áreas. Nessa estratégia, além de conta digital e empréstimos, a fintech lançou contas para pessoa jurídica e entrou no segmento de investimentos com a compra da antiga Easynvest. Em dezembro do ano passado, o Nubank estreou na Bolsa de Nova York (NYSE) a US$ 9, com a fintech sendo avaliada em US$ 41 bilhões. Na ocasião, o roxinho surpreendeu até analistas da área financeira ao entrar na bolsa norte-americana valendo mais que o Itaú — na época era avaliado em US$ 40 bilhões —, banco que, com mais de 60 milhões de clientes, possuía uma base muito mais sólida e era considerado o maior banco brasileiro na época. Apesar dos bons números registrados pelo Nubank no lançamento da bolsa, as ações da fintech só foram caindo ao longo dos meses. No somatório, as ações do banco digital já despencaram cerca de 50% desde sua abertura de capital (IPO) em dezembro do ano passado, valendo hoje US$ 4,35. Com isso, o Nubank perdeu seu posto não só de banco mais valioso da América Latina, como do Brasil, com seu valor de mercado total fechando a terça-feira (10) a US$ 20,5 bilhões, metade do que valia no final do ano passado. Com a perda de quase 60% do seu valor de mercado, outras instituições financeiras passaram à frente do Nubank, como o BTG, que tem um porte menor do que os bancões (bancos tradicionais do varejo) e já vale mais que a fintech. Em comparação com outros bancos digitais, o Nubank ainda é o maior, totalizando 54 milhões de clientes, enquanto o Inter possui cerca de 19 milhões. O Next, Digio e a carteira digital Bitz, todos do Bradesco, possuem 21 milhões de usuários. Já o C6 na última marcação apresentou cerca de 14 milhões de clientes. Mas o que explica a queda registrada pelo banco nos últimos meses? Alguns fatos recentes podem elucidar o que está acontecendo com o Nubank.
Resultados financeiros negativos
Em fevereiro, o Nubank divulgou seu o primeiro balanço como companhia de capital aberto, após o IPO simultâneo em Nova York e São Paulo. Nos números, o roxinho registra um prejuízo líquido de US$ 66,2 milhões no quarto trimestre de 2021 – cifra 36,1% inferior às perdas de US$ 103,7 milhões registrados no mesmo período de 2020. Em todo o ano passado, o prejuízo líquido somou US$ 165,3 milhões, resultado praticamente idêntico ao de 2020 (US$ 166 milhões), mas pior do que o reportado em 2019 (US$ 67,5 milhões). Em lucro líquido, o Nubank registrou US$ 3,2 milhões no quarto trimestre de 2021, o que representa uma queda de 79,75% sobre o número do mesmo período do ano anterior. No acumulado do ano, o lucro ajustado chegou a US$ 6,6 milhões, chegando a reverter o prejuízo de US$ 26,8 milhões registrado em 2020. Apesar de assustar, os prejuízos já eram previstos pela empresa, pois o modelo de crescimento adotado pelo Nubank é focado desde o início em ganhar mercado, investindo para aumentar a sua base de clientes. A ideia de priorizar o crescimento em vez do lucro não é incomum entre as startups do setor de tecnologia, especialmente as mais inovadoras. A ideia é de que é preciso “queimar caixa” para entrar e se consolidar no mercado. Os resultados negativos consecutivos, no entanto, podem afastar possíveis novos investidores, ainda mais se levarmos em consideração a perda de quase 60% do valor de mercado em apenas seis meses.
Desconfiança dos investidores
A desconfiança dos investidores em relação ao banco também é um motivo bastante plausível para explicar o derretimento dos seus papeis, que acabam por corroer o seu valor de mercado dia após dia. No final de abril, a fintech enviou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) um formulário em que estipula um pagamento potencial de cerca de R$ 816 milhões aos oito integrantes da diretoria executiva do banco para 2022. No Twitter, usuários fizeram a ‘conta de padaria’: em média, cada diretor receberia R$ 100 milhões entre ações, salários e benefícios. Embora a prática seja comum nas empresas, com a maior parte da bolada ficando para a diretoria executiva, o valor está muito acima da média praticada no mercado, o que acabou por gerar desconfiança. Para se ter uma ideia, o Itaú, maior banco da América Latina atualmente, pagou cerca de 444 milhões de reais aos seus executivos em 2021, metade do valor previsto para os executivos do Nubank. O valor também é quase quatro vezes superior aos 237 milhões de reais previstos pelo Nubank no ano passado para diretoria e conselho. Como pode um banco registrando números negativos pagar uma bolada superior aos bancões? Poucos dias após o anúncio do Nubank, as ações do banco passaram a registrar quedas consecutivas, formando o cenário que vemos atualmente. A cifra milionária foi, inclusive, questionada por investidores. “Com ações caindo tanto, falar em uma remuneração de 800 milhões de reais pega mal para um banco tão comprometido com narrativas e com uma proposta de marca diferenciada tão apoiada no marketing”, diz Felipe Miranda, CEO do grupo Empiricus.
Negligência
Outro ponto que vem pesando contra o Nubank é o seu atendimento em casos de fraudes e golpes sofridos por clientes. Não é preciso vasculhar muito a internet para encontrar relatos de consumidores que foram vítimas de criminosos e acabaram negligenciados pela instituição financeira. Recentemente, inclusive, o banco foi obrigado pela Justiça de São Paulo a indenizar um cliente que foi vítima de uma fraude bancária após ter seu celular roubado. Segundo informações divulgadas pela imprensa, na ocasião, o consumidor teve todo o valor transferido para outra conta pelos bandidos, tendo seu pedido de devolução negado posteriormente pelo banco. Histórias negativas como essa acabam por afastar possíveis novos clientes, o que impacta diretamente o crescimento da fintech. Com uma concorrência cada vez mais acirrada e diversas opções surgindo a cada dia que passa, não há como se dar ao luxo de perder clientes por conta de um suporte ineficiente ou de negligência.
O Nubank vai falir?
Na internet, muitos se questionam se o Nubank está prestes a falir. Sobre isso, analistas acreditam que não. Apesar do momento conturbado que a fintech vive, é muito improvável que ela sucumba da noite para o dia. A empresa ainda é muito bem avaliada de forma geral e ninguém duvida do seu potencialmente de continuar crescendo. É importante, apenas, colocar a casa em ordem e desfazer as bagunças dos últimos meses. Veja também Que tal se precaver de problemas com os apps de bancos? Confira uma matéria do Showmetech que explica como aumentar a segurança em apps de bancos no celular. Fontes: InfoMoney, Yahoo! Finanças, iFinance, Veja, BBC.