Os últimos meses em nosso país têm sido bastante conturbados. Enquanto políticos corruptos são finalmente condenados, cidadãos de bem tentam ganhar a vida honestamente. Muitos pedem a saída de quem está no poder, enquanto outros bravejam que “não vai ter golpe”. Mas o verdadeiro golpe será dado contra um serviço essencial de utilidade pública: a internet. Se tem um serviço do qual não podemos nos orgulhar no Brasil (se é que podemos nos orgulhar de algum), é o de internet, seja ela móvel ou fixa. Se já era ruim ter que se submeter a serviços de má qualidade, com péssimo suporte e sem órgãos a recorrer (Anatel? Pff.. ), saiba que vai ficar pior. BEM PIOR. As principais operadoras de internet fixa, essa que você usa em sua casa para compartilhar o Wi-Fi com toda família, estão colocando limite de dados na internet banda larga. Isso significa que essa internet não será mais ilimitada. Ou seja, pode dar adeus ao YouTube, Netflix, serviços de streaming como Spotify e Apple Music e desenterrar seus CD’s e DVD’s, iPods e derivados… Tudo isso começou há 6 semanas, quando a Vivo anunciou que colocaria limite de consumo de dados em seus planos de banda larga. Para se ter uma noção, o plano de Banda Larga Popular tem velocidade de 200 kb/s e limite de consumo de 10 GB por mês; e o plano mais top é o Vivo Internet, que tem velocidade de 25 Mb/s e 130 GB/mês. No plano com maior velocidade e mais dados, você não poderá, por exemplo, fazer uma maratona de Breaking Bad em qualidade Full HD, pois cada episódio consome em média 3 GB de banda, e Breaking Bad, com 62 episódios de aproximadamente 55 minutos, consumiria quase 170 GB de internet.
Quem trabalha com suporte técnico e baixa drivers o dia todo, para os mais variados computadores, sentirá o baque mais fortemente. E olha que, para as operadoras isso só vai afetar poucos usuários, que são os “usuários avançados”. Pura mentira. Se formos analisar, hoje um usuário comum recebe toneladas de vídeos no WhatsApp, conhece e usa Netflix, Spotify, Apple Music, YouTube e assiste bastante vídeo no Facebook. Vamos imaginar mais uma situação hipotética, que só acontece em contos de fadas… Você compra um Xbox One ou PS4 e quer baixar alguns jogos para inaugurar seu console, jogos que tem em média de 50 a 55 GBs e vai parar muito provavelmente no terceiro jogo com a internet interrompida, ou com velocidade reduzida, e nem poderá desfrutar de uma jogatina online, cruel não acha? E não é só quem usa a internet como entretenimento que vai ser afetado. Essa franquia vai decretar de vez o fim das lan houses, afetar quem trabalha com YouTube, quem estuda online vai se ver obrigado a trancar a faculdade, exemplos não faltam. Antes ninguém se preocupava em limitar quanto está gastando de internet, a não ser no smartphone, não é? Mas agora, as operadoras acham que isso é bom para o usuário. E pasmem, a agência reguladora da internet, Anatel, que deveria estar do lado do consumidor, viu a mudança como benéfica.
Aos usuários da Vivo, que sequer sabiam dessa mudança, tenho uma boa (?) notícia, a franquia de dados continuará “promocionalmente” ilimitada até 31 de dezembro de 2016. Após o período, “poderá ocorrer o bloqueio ou redução da velocidade”. Infelizmente não é só a Vivo que fará isso. Aqui, sempre que uma operadora lança uma ideia boa as outras a canibalizam, mas quando a ideia é ruim, não se preocupe, todas copiarão. Net Virtua e Oi já se pronunciaram aderindo a esse nefasto plano de limitar nossa internet. Cada operadora possui planos e franquias diferentes, veja um resumo dos planos compilado pelo Tecnoblog: NET Virtua
2 Mb/s: 30 GB 15 Mb/s: 80 GB 30 Mb/s: 100 GB 60 Mb/s: 150 GB 120 Mb/s: 200 GB 500 Mb/s: 500 GB
Ao atingir a franquia, ocorre redução de velocidade para a menor comercializada, exceto na velocidade de 500 Mb/s, cuja redução é para 10 Mb/s. Vale lembrar que a NET já estabelecia uma franquia em seus planos, mas sempre fez vista grossa. Vivo
Banda Larga Popular: 10 GB 4 Mb/s: 50 GB 8 Mb/s: 100 GB 10 Mb/s: 100 GB 15 Mb/s: 120 GB 25 Mb/s: 130 GB
Quem contratou o serviço a partir de 5 de fevereiro já está sujeito à franquia, os clientes antigos terão que se contentar com uma “promoção” até o fim do ano com dados ilimitados. A GVT não anunciou nenhum plano de franquia, mas com a fusão da marca com a Vivo, isso é mais que óbvio, e já foi confirmado por Christian Gebara, representante da Vivo, em conversa exclusiva com o Tecnoblog que a empresa adotará o sistema. Oi
Planos até 2 Mb/s: 60 GB 5 Mb/s: 70 GB 10 Mb/s: 90 GB 15 Mb/s: 110 GB 20 Mb/s: 110 GB 25 Mb/s: 130 GB 35 Mb/s: 130 GB
A Oi afirma que a franquia ilimitada seria somente até 15.3.2016 e seria renovada automaticamente mensalmente, até que a empresa melhore sua infraestrutura para conseguir ter uma tecnologia que faça a medição de dados. Ou seja, quem usa a internet ótima da Oi Velox ainda está salvo. Não sei se é para chorar ou comemorar. Até então, a única operado que se mantém sem franquias é a Live TIM, e as internet de bairro, via rádio e afins, e espero que continuem assim. Amém.
Mas por que estão inventando isso agora?
De acordo com Gebara, ao Tenoblog, “Essa é uma tendência mundial. Grandes operadoras no mundo, inclusive do Grupo Telefônica, já estão acabando com o tráfego ilimitado e adotando franquias. A ideia é que o consumo seja como uma conta de luz, onde o cliente pagará apenas o que precisar“. Eu queria muito saber onde essa tendência está “pegando”, porque em nenhum lugar do mundo as pessoas gostam de retrocesso. E essa ideia de consumo como uma conta de luz está totalmente equivocada, para ser dessa maneira, a conta deveria cobrar o valor em MB/s consumidos, com velocidade e download ilimitados. E não cortar o consumo quando a franquia acabar. Na minha casa nunca cortaram a luz quando liguei muita coisa na tomada. Para responder a essa pergunta só consigo pensar em uma coisa: as operadoras de internet, coincidentemente também tem TV por assinatura, e encontraram uma forma de combater o streaming, limitando a internet dos usuários. A Vivo sempre se posicionou contra serviços como Netflix e WhatsApp, que pra ela é uma operadora pirata, mas no fundo sabemos que ela odeia o serviço de mensagens porque ele acabou com o SMS e quebrou as barreiras de comunicação à longa distância. Como lemos em nosso último editorial, a tecnologia é capaz de mudar o modelo de negócios da empresas, e quem rema contra a maré da inovação acaba se afogando, pior então quem tenta voltar no tempo, oferecendo uma experiência de uso inferior, e vendendo como uma vantagem.
O que podemos fazer para deter isso?
Não se conforme, não aceite essa imposição, se puder mudar para uma operadora que ainda esteja livre. Não seja omisso, prefiro ter uma internet de bairro ilimitada, à uma conexão limitada empurrada goela abaixo e, se precisar fazer algo mais, faça. Não vamos deixar que isso se concretize. Ou isso parece justo pra você?