Em meio a polêmicas envolvendo seu nome, James Gunn foi desligado da Marvel pela Disney e, tempo depois, acolhido novamente, que deu ao diretor e roteirista a missão de refazer o filme do Esquadrão Suicida pela Warner Bros., com o objetivo de fazer jus aos personagens famosos dos quadrinhos. Com material em mãos e a experiência de comandar a saga cômica e muito querida pelos fãs da DC, James usou a ‘loucura’ a seu favor para dar vida às antigas e novas figuras do bando de vilões. Todos os detalhes sobre o filme você confere na nossa crítica a seguir, sem spoilers!
Era uma vez o novo Esquadrão Suicida
Na primeira versão do filme, nove criminosos formavam a equipe especial quer tinha como missão impedir uma catástrofe. A atualização de James Gunn reaproveita algumas figuras, como a comandante Amanda Waller (Viola Davis), Capitão Bumerangue (Jai Courtney), Rick Flag (Joel Kinnaman) e, é claro, a famosa Arlequina (Margot Robbie). A novidade fica por conta das novas figuras que ganham espaço relevante na trama. A primeira figura em destaque é Bloodsport (Idris Elba), um assassino instruído por Lex Luthor a derrotar Superman nos quadrinhos. No filme, ele desempenha um papel importante de liderança da equipe suicida. Pacificador (John Cena), um personagem obcecado por paz a todo e qualquer custo, e Ratcatcher 2 (Daniela Melchior), filha do vilão homônimo capaz de controlar ratos, são duas novidades que possuem relevância na história. Outra inserção importante é o Tubarão-Rei (Sylvester Stallone), que vem sendo introduzido no universo audiovisual da DC, como no futuro jogo do bando de vilões, e é um dos membros principais. Além disso, vários outros não-heróis dão as caras durante as 2 horas de ação e muito sangue. Inclusive, esta é uma das principais características do filme: uma história que busca comicidade através da violência sangrenta e carisma dos personagens.
Uma franquia de vilões diferenciada
A grande marca de James Gunn neste filme com certeza é o uso excessivo de cenas sangrentas. A princípio, a comparação com o viés de Deadpool é automática, mas neste caso, claro, a proposta é diferente. Não só há a ambição de cenas violentas em todo confronto como também contém momentos de nudez no filme. É até de estranhar que a classificação indicatória da produção no Brasil não seja para maiores de 18 anos. A parte técnica do filme é bem executada na maioria das vezes. Existem algumas cenas de ação, além do design do Tubarão-Rei e do Weasel (Sean Gunn) em certos momentos, que parecem modificadas demais, num aspecto menos atrativo. Em compensação, os cenários estão muito bem integrados e a dinâmica entre os personagens é favorecida. Em relação à história, é possível afirmaR que houve um aprimoramento das ideias que não deram certo no primeiro filme. E isso não se limita ao fato de que o Coringa, de Jared Leto, não está presente — assim como o próprio diretor não vê sentido em sua participação para o Esquadrão Suicida —, mas na melhor execução de uma trama interessante que pudesse reunir tantoS vilões diferentes em uma só narrativa. Neste ponto, é perceptível que, em contraste com a versão antiga, esse novo filme consegue criar uma atmosfera mais memorável e melhor organizada. Outro fato relevante é a representação brasileira na trilha sonora e na participação de Alice Braga, cuja atuação é ótima.
A falta de equilíbrio entre os personagens na narrativa
No entanto, é a partir da montagem da trama que o filme começa a pecar. Um dos apontamentos dos fãs no primeiro longa é que a Arlequina de Margot Robbie praticamente assumiu a parte boa do filme. Na versão de James, parece que houve uma enorme preocupação em não deixar a personagem assumir sozinha o protagonismo (o que, de certa forma, é bom), mas foi justamente essa manobra que a deixou em um segundo plano. Faltou equilibrar o pódio entre esses vilões. Isso é bem notável, principalmente a partir do terceiro ato do filme, em que dois personagens ganham um destaque proposital para seus arcos terem força, enquanto Arlequina permanece meio avulsa na situação. Quando um filme já tem grandes figuras conhecidas e precisa apresentar e desenvolver novas representações em tela, é uma tarefa difícil. Mas espera-se que haja um ponto de equilíbrio entre esses dois pesos, senão o Esquadrão, de fato, não permanece coeso como ele deveria. Neste sentido, a construção da narrativa segue enquanto tropeça em algumas situações do filme. Além disso, a produção tinha a brilhante chance de encerrar sua história 20 minutos antes e garantir um gancho interessante para o futuro, mas caiu na previsibilidade e na conveniência de roteiro. Não vamos especificar exatamente é que é, mas esse ponto foi particularmente frustrante. Em relação aos grandes nomes de Hollywood, é normal que os fãs esperem ótimas atuações, especialmente de Viola Davis, Idris Elba e Margot Robbie, que já fazem um belo trabalho. Porém, no novo Esquadrão Suicida, apenas os dois primeiros atores dos citados entregam suas melhores partes. Essa parte talvez seja um tanto particular para cada espectador, mas nesta ocasião, Margot Robbie entrega a sua Arlequina menos inspirada até o momento. A loucura e sagacidade de Arlequina de Aves de Rapina — e até mesmo da primeira versão de Esquadrão Suicida — fazem falta. O resultado é um pouco abaixo do que já sabemos que a atriz consegue oferecer com essa figura tão carismática. Além disso, um dos principais aspectos que fizeram de Guardiões da Galáxia um sucesso é o fato da ótima mistura de carisma dos personagens com o humor escrachado. Na trupe dos heróis da Marvel, isso funciona. No novo Esquadrão Suicida, nem tanto. A sensação é de que as piadas são tão pensadas que elas perdem o valor quando ditas nas cenas. É quase como se você, espectador, pudesse ler as falas do roteiro e destacar: “isso aqui tinha de ser engraçado”. Esse tipo de humor funciona em alguns momentos, principalmente com o Tubarão-Rei, mas em outros ele apenas não tem força.
O Esquadrão Suicida é melhor que a primeira versão do filme?
Embora haja diversos tópicos que fragilizam um pouco a experiência do filme, é possível afirmar que, ao todo, ele é bem melhor resolvido do que a produção de 2016. A trama é mais interessante e o caos em meio aos personagens entretém mais, mesmo com algumas escolhas duvidosas. Não há dúvidas de que o filme original teve um impacto negativo muito grande na época e, até hoje, é lembrado como um sinônimo do que não fazer. O novo Esquadrão Suicida não é o primor dos filmes de super-heróis e vilões, tampouco a melhor representação que a Warner Bros. e a DC Comics já fizeram com seus personagens. Mas talvez este seja o momento em que a maldição de um dos maiores títulos dos quadrinhos finalmente acabe e abra espaço para novos desdobramentos a partir do que vimos agora. Na verdade, se você ficou até as duas últimas cenas pós-créditos, é possível confirmar que isso já vai acontecer.
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