Animais Fantásticos 3: Os Segredos de Dumbledore (Fantastic Beasts: The Secrets of Dumbledore, 2022) chega aos cinemas no próximo dia 14, com o retorno da direção de David Yates, roteiro assinado por J. K. Rowling com a colaboração de Steve Kloves (roteirista de quase todas as adaptações de Harry Potter). Lançado quatro anos após Os Crimes de Grindelwald — que decepcionou tanto em crítica quanto em bilheteria — o longa foi atrasado principalmente por causa das fortes polêmicas que rodearam a saga. Começando com a demissão de Johnny Depp do papel de Grindelwald, passando pelos comentários transfóbicos de J.K Rowling, chegando até mesmo as recentes polémicas de Ezra Miller. Tudo isso pode, inclusive, ter impactado o roteiro e influenciar na bilheteria do filme. O grande objetivo de Animais Fantásticos 3 é tentar fazer a saga renascer das cinzas como a fênix da casa Dumbledore. Se isso não foi totalmente possível, pelo menos somos apresentados a uma sequência muito superior a anterior, mesmo com um roteiro ainda falho em muitos aspectos. No entanto, desta vez temos um filme divertido, e nostálgico que conseguiu nos fazer enxergar o encanto e a sedução do vilão que roubou o coração de Dumbledore e tentou destruir o mundo trouxa. Mas será o suficiente para levar a saga aos próximos dois filmes previstos? Eu não tenho tanta certeza.

Roteiro de Animais Fantásticos 3

Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore continua a narrativa do filme anterior. Ainda em um ambiente pré-guerra do bem contra o mal, Grindelwald deseja reunir mais seguidores na sua tentativa de colocar os bruxos contra a população trouxa e assim erradicar toda a comunidade não-mágica, que, segundo sua ideologia, pertencem a uma raça inferior. Dessa vez, o meio escolhido para alcançar seu objetivo é tomar o controle da comunidade bruxa por vias políticas. O principal bruxo que poderia combatê-lo é Alvo Dumbledore, sua antiga paixão da juventude. No entanto, por causa de um pacto de sangue entre eles realizado há muito tempo, é impossível para o futuro diretor de Hogwarts combater diretamente o Bruxo das Trevas. Logo, ele convoca o magizoologista Newt Scamander e uma eclética turma para combater Grindelwald em uma trama cheia de criaturas mágicas, segredos e planos não contados. O primeiro ponto que traz o filme de volta aos trilhos é o retorno do destaque a Newt (totalmente ofuscado no longa anterior), que age sob os comandos aparentemente incertos de Dumbledore e traz uma dinâmica divertida no roteiro sombrio. No entanto, em meio a tantas tramas — algumas delas desnecessárias para a construção da história —, o magizoologista não é o que chama mais atenção, suas relações pessoais não têm nenhum desenvolvimento, a presença do seu irmão, Teseus, prometia mais, porém não altera isso e mesmo os animais fantásticos poderiam ser mais explorados. O filme se ambienta na década de 30, em grande parte no Ministério da Magia da Alemanha. Onde a Confederação Internacional dos Bruxos planeja eleger seu novo representante: o chinês Liu Tao (Dave Wong) ou a brasileira Vicência Santos (Maria Fernanda Cândido), sendo interrompidos pelo vilão. Junte isso a ideologia xenofóbica de Grindelwald, a figura manipuladora e cruel de um genocida em potencial que, frente ao público, se mostra carismático e injustiçado. Essa é uma forma nem tão sutil de remeter a um momento histórico e político bem conhecido: a Segunda Guerra Mundial. Com direito a uma crítica social que ainda se mostra atual. O que tinha tudo para ser um ponto positivo na história, sendo sua principal narrativa, acaba sendo apenas subdesenvolvido. Não há a oportunidade de conhecer, de fato, o cenário político local, apenas os planos já batidos de Grindelwald. Temos como exemplo a política Vicência Santos, uma das bruxas mais poderosas do mundo e que, apesar de ter um papel aparentemente de destaque para a trama e um possível retorno para os dois últimos filmes da franquia, não consegue falar nem em suas cenas principais. A resolução desse arco político é simplório e acaba sendo um final amargo.

Elenco e atuações

Não dá para falar em Os Segredos de Dumbledore sem notar uma mudança significativa em seu elenco: o grande vilão da trama, Gerardo Grindelwald, anteriormente interpretado por Johnny Depp, agora possui os traços de Mads Mikkelsen. Tal mudança é notória: o antagonista agora é menos expressivo — o que configura um erro na continuação de um mesmo personagem, para os mais exigentes — no entanto, ao escolher embarcar no grande Bruxo das Trevas de Mikkelsen é possível ser seduzido pelo seu olhar enigmático e cruel, além da presença imponente e manipuladora que substitui a extravagância de Depp. Aquele que deve sim ser nomeado, Alvo Dumbledore, brilha sob a atuação exemplar de Jude Law, dessa vez, com a personalidade mais próxima do que vemos em toda a franquia de Harry Potter. Em Os Segredos de Dumbledore, conseguimos de fato nos aprofundar um pouco mais — ainda que não de modo extremamente surpreendente — no passado misterioso do professor de Hogwarts. E Law é perspicaz ao conseguir passar com a intensidade necessária todos os tons de culpa, dor e amor que ele carrega até o conhecido fim da sua vida. Outro ponto notório é o clima tenso, quase palpável, das cenas entre Mikkelsen e Law. Se o roteiro de Animais Fantásticos 3 acertou em deixar claro o envolvimento de Dumbledore e Grindelwald na juventude, os atores fazem com perfeição o trabalho de expor, em olhares e nas frases ditas, todas as nuances do magnetismo que ainda existe entre eles, agora em lados opostos em uma Guerra Bruxa, além do peso do passado compartilhado. Passado esse que deveria se mostrar mais presente nos filmes, afinal, é algo que os fãs desejam intensamente ver. Ao lado de Alvo Dumbledore temos, o também protagonista, Newt Scamander (Eddie Redmayne, sem necessidade de reafirmar sua ótima atuação em toda a franquia) novamente ao lado da sua divertida assistente, Bunty (Victoria Yeates), seu irmão Teseus Scamander (Callum Turner), a professora de Hogwarts, Lally Hicks (Jessica Williams), o bruxo francês Yusuf Kama (William Nadylam), e o padeiro trouxa Jacob Kowalski (Dan Fogler). Do lado das Trevas, temos a bruxa legilimente, Queenie Goldstein (Alison Sudol), e o obscurial, Credence Barebone (Ezra Miller). Apesar das boas atuações, o elenco é mal aproveitado. Para começar com Tina (Katherine Waterston), interesse amoroso de Newt que esperávamos ver evoluir na parte 3, mas faz apenas uma participação na trama. Com exceção de Jacob, Queenie e Credence, pouco sabemos sobre a história dos coadjuvantes em Os Segredos de Dumbledore. Mesmo as histórias que conhecemos não são aprofundadas ou carismáticas, tornando difícil se conectar com os personagens e torcer por eles, mesmo os que parecem ter muito a oferecer, como a engenhosa Lally. Fica por conta do padeiro trouxa entregar o alívio cômico ao ambiente escuro que antecipa a guerra, e Dan Floger entrega isso com perfeição. Credence, no entanto, não aparece tanto quanto era esperado tendo um desfecho apagado, principalmente sendo parte ativa da história a ser contada. Talvez os problemas envolvendo seu intérprete tenha afetado o roteiro, mas isso é algo que, provavelmente, nunca saberemos. E precisamos, por fim, falar da estreia de Maria Fernanda Cândido em Animais Fantásticos 3. A brasileira interpreta com muita elegância a bruxa candidata a chefe suprema da Confederação Internacional. Apesar de contar com uma legião de apoiadores e ser peça importante nas maquinações políticas que ocorrem na trama, infelizmente ela é mais uma personagem a ser pouco aproveitada, pronunciando raras frases ao longo do filme. No entanto, em seu curto tempo de tela, fica claro a personalidade da política sob a boa atuação de Cândido.

Fotografia e Trilha Sonora

A fotografia e a trilha sonora de Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore são pontos que não pecam. Os confrontos repletos de efeitos especiais estão reduzidos no longa, mas somos recompensados com cenas bem produzidas, além de criaturas mágicas realistas. Outro ponto positivo são os cenários familiares e elementos da trama original que despertam uma nostalgia, como o pomo de ouro e o livro monstruoso dos monstros, além das cenas de Hogwarts com a maravilhosa trilha sonora de Harry Potter tocando ao fundo, que fazem valer o longa. E por falar em trilha sonora, é James Newton Howard, ganhador do Grammy e do Emmy Award que realiza composição do filme de forma impecável. Não há como imaginar as cenas executadas sem a musicalidade adequada, que consegue nos fazer transitar entre as cenas mais divertidas e as extremamente pesadas de forma leve e contínua.

Veredito

Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore não chega as solas das meias de Dobby, o elfo doméstico, e isso não é um grande mistério. As muitas subtramas acabam tirando o foco até das criaturas mágicas que dão nome a saga, e os personagens acabam perdidos entre as narrativas corridas. No entanto, o longa ecoa um Lumus Maxima sobre a franquia. É um filme excepcionalmente bonito, com momentos divertidos e nostálgicos. E, ao que parece, finalmente expõe que o objetivo dos próximos filmes será explorar o passado e o futuro de Dumbledore e Grindelwald, com Newt em segundo plano. Os ingressos para Animais Fantásticos 3, que estreia dia 14, já podem ser adquiridos pela internet através do site Ingresso.com.

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