Segundo um relatório feito pela Associação de Produtos de Imagem e Câmeras (CIPA, na sigla em inglês) em 2019, o número total de câmeras fotográficas vendidas ano a ano caiu de 121 milhões, em 2010, para apenas 19 milhões em 2019. A pesquisa não registrava um montante de vendas tão baixo desde 2001, quando as câmeras digitais começaram a se popularizar. Fonte: Statista Também de acordo com o relatório, a queda se deu principalmente na venda de câmeras com lente fixa. Normalmente compradas por fotógrafos amadores e casuais, elas foram sendo substituídas por smartphones ao longo da década. Já o cenário das câmeras profissionais, com lentes intercambiáveis e recursos de ponta, não apresentou tanta perda. No entanto, também não cresceu consideravelmente. Isso se deve, principalmente, ao fato de que essas câmeras, como o nome já diz, são utilizadas por profissionais, em contextos onde um smartphone dificilmente conseguirá substituí-las.
Mas o que causou o declínio das câmeras DSLR?
Há quem diga que o único fator responsável pela queda nas vendas de câmeras dedicadas seja o avanço na capacidade fotográfica dos smartphones. No entanto, isso não é toda a verdade: Ao longo da última década, os smartphones não só incrementaram suas lentes e sensores, o que resultou em fotos com cores melhores e detalhes mais ricos, como também desenvolveram técnicas para superar suas próprias limitações. Dentro da indústria mobile também é possível perceber que o cenário mais competitivo nos últimos três anos (e que não deve mudar tão cedo) é o das câmeras. Deixamos de comparar os smartphones com base em suas velocidades e qualidade de acabamento e passamos a competir por quem tem a melhor câmera ou aquela com os recursos mais exclusivos.
A melhor câmera é aquela que está com você
“A melhor câmera é aquela que está com você”. A frase do diretor de arte, empresário e um dos maiores nomes da fotografia no mundo, Chase Jarvis, explica bem as razões que fizeram os smartphones tomarem o lugar das DSLRs nos últimos anos: Ainda que você não precise de uma câmera dedicada para fotografar bons cliques, a maioria dos modelos medianos do mercado ainda superarão um smartphone em situações desafiadoras, como nas fotos com baixa iluminação ou de cenas em movimento. No entanto, as pessoas carregam os seus celulares consigo, não suas câmeras – e isso faz toda a diferença. Com um único dispositivo é possível tirar fotos (panorâmicas, em alguns casos com zoom ótico ou com altíssimos ângulos de visão), gravar vídeos, tirar selfies, editar o que foi capturado e publicar imediatamente na web. A interface mais intuitiva das câmeras dos smartphones, além dos aplicativos de edição que são mais fáceis de usar que os de um computador, também são fatores fundamentais para a preferência pelos celulares na hora de fotografar. Além disso, a fotografia deixou ser apenas um registro ou uma manifestação artística, passando a ser também um hábito social. Segundo a plataforma de dados Statista, desde junho de 2018 o Instagram conta com mais de 1 bilhão de usuários ativos (número que certamente cresceu em um ano) e 500 milhões desses usuários utilizam a rede social todos os dias. Considerando ainda que qualquer foto publicada numa rede social perde qualidade devido às compressões que sofre, não é difícil entender porquê investir num aparelho que só oferece qualidade de imagem, e quase nenhuma versatilidade, perdeu o sentido. A menos, é claro, que você trabalhe com isso – o que explica a estabilidade nas vendas de câmeras profissionais.
Fotografia computacional: o motivo de fotos tão boas
Outro fator que contribuiu em peso para o trunfo das câmeras de smartphone é a fotografia computacional. Nos últimos anos, as fabricantes descobriram como compensar os sensores e lentes, que precisam ser menores nos smartphones. E fizeram isso usando inteligência artificial. É bem provável que o seu smartphone já conte com recursos de reconhecimento de cena, por exemplo. Há alguns anos, esse tipo de função apenas ajustava os parâmetros da câmera para que ela captasse mais luz ou cor, dependendo da necessidade. Hoje, a função aprimora as fotos inclusive depois que elas são capturadas, pois os aparelhos já são capazes de reconhecer falhas nas imagens (como borrões ou algo que saiu ofuscado) e corrigi-las imediatamente. Lançada em 2016, a primeira geração do Google Pixel foi quem revolucionou o conceito de fotografia computacional nos smartphones, e fez isto com um hardware bastante minimalista para a época. Graças ao software embarcado na câmera, o aparelho era capaz de tirar múltiplas fotos antes mesmo do usuário pressionar o botão do obturador – e depois sobrepor as capturas de forma inteligente, a fim de criar uma imagem com luz, cor e nitidez perfeitas. Em alguns meses, a concorrência descobriu o segredo da câmera do Pixel e apresentou suas próprias câmeras inteligentes. Desde então, a competição só se acirra a cada lançamento e os recursos disponíveis nos smartphones só se ampliam, ainda que os sensores e lentes não tenham mudado tanto. Em 2019, foi a Apple quem decidiu investir na fotografia computacional com o que a marca apelidou de “Deep Fusion“. Com a tecnologia, os novos iPhones prometem fotos melhores em ambientes escuros, além de reduzir ruídos e ressaltar texturas. A ideia não é nova, mas mostra que os próximos anos da fotografia móvel continuarão a se resumir em câmeras cada vez mais inteligentes e, consequentemente, capazes. E você? Também acredita que os smartphones “mataram” as câmeras profissionais? Deixe nos comentários a sua opinião. Via: Statista