A quebra de recordes parecia ser o resultado de um longo trabalho da cantora, que tem tentado, nos últimos anos, alavancar a sua presença no mercado fonográfico internacional, realizando parcerias com cantoras internacionais, como Cardi B e Madonna. No entanto, parece que esse sucesso não é tão orgânico assim. De acordo com dados do site Rest of World, há evidências de que a base de fãs da cantora utilizou métodos que impulsionaram a contagem de reproduções da faixa, dentro dos termos e condições de uso do Spotify. A polêmica chega em meio ao lançamento do mais novo álbum da cantora. Intitulado Versions of Me, o projeto — que antes de chamaria Girl from Rio — conta com nomes como Cardi B, Khalid e MC Kevin O Chris, além de músicas em três idiomas. Nas redes sociais, o lançamento dividiu a opinião de fãs e admiradores da cantora, apesar do bom desempenho que o álbum vem angariando desde ontem (12), dia em que foi lançado oficialmente nas plataformas de streaming.
Lançamento e sucesso meteórico de Envolver
Lançado no dia 11 de novembro do ano passado, “Envolver” traz uma letra sedutora ao som urbano do reggaeton. O clipe do single no YouTube já conta com mais de 120 milhões de views, tornando-se um dos vídeos mais vistos da cantora na plataforma de vídeos. Pouco tempo após a liberação do clipe, a Anitta chegou a comentar que o sucesso se dá também pelas estratégias adotadas. Escrita pela própria Anitta em parceria com os colegas hispano-americanos Julio M. Gonzales Tavarez, Freddy Montalvo e José Carlos Cruz, o single quase não saiu do papel. Segundo a cantora, a Warner Records não queria levar a letra para dentro do estúdio. “Disseram que a música não iria a lugar nenhum e que eu não teria forças para lançar isso sozinha”, revelou a cantora aos fãs, em um claro descontentamento com a gravadora responsável pela obra da funkeira. Aos poucos, a música começou a crescer nas reproduções diárias do Spotify, além de viralizar em plataformas como TikTok e Twitter. Graças a mobilização dos fãs, em questão de dias a música já estava entre as 50 mais tocadas de todos os países da América Latina onde o Spotify está presente. Apesar disso, aqui no Brasil a música ainda não havia despertado o interesse do restante dos brasileiros. Foi somente no dia 12 de março que a música entrou, pela primeira vez, entre as 50 mais tocadas no mundo, ocupando a posição de número 48, com 1.461.708 reproduções na plataforma de streaming. Para se ter uma ideia de como a música ainda não havia conseguido decolar no país, desse total, apenas 322.649 foram reproduções únicas vindas exclusivamente do Brasil, o que representa apenas 22% dos plays totais da música. Mas com a repercussão internacional crescendo dia após dia, os brasileiros se viraram para a canção e, do dia para a noite, fizeram dela um sucesso meteórico. Com cada vez mais pessoas descobrindo o ritmo envolvente, no dia 19 de março a música entrou pela primeira vez entre as 10 músicas mais tocadas do mundo, com mais de 2,5 milhões de reproduções. E pouco tempo depois, no dia 24 de março, a nova faixa tornou-se a música mais reproduzida globalmente com mais de 6,4 milhões de plays. Era notório que o sucesso de Envolver estava ligado diretamente ao engajamento e mobilização dos fãs de Anitta, que fizeram inúmeras campanhas com o intuito de levar o nome da brasileira para as paradas mundiais. No entanto, esse fenômeno levanta polêmicas e ganha novos contornos, com direito a investigação oficial do próprio Spotify.
Manipulação e polêmicas com Anitta no Spotify
De acordo com dados do site Rest of World, que conversou com especialistas da indústria para analisar o fenômeno da cantora, há indícios de que fãs da cantora tenham utilizado métodos questionáveis para impulsionar o lançamento de “Envolver”. Entre as ações dos fãs de Anitta, suspeita-se de uma manipulação do algoritmo do Spotify utilizando não bots, mas a mobilização da base de fãs utilizando métodos que ajudariam a contabilizar uma maior quantidade de plays da música. Tudo começou quando um usuário do Twitter fez uma publicação onde ensinava a criar mais de uma conta e criar playlists para Envolver tocar várias vezes por horas. O Rest of World identificou mais de 100 playlists com o nome da canção, que ajudaram a contornar as regras do Spotify para que Anitta chegasse ao topo. O mais curioso é que o próprio perfil da cantora participou ativamente nas redes sociais para estimular o “engajamento”, inclusive retuitando o post com as dicas para obter mais streams. Apesar da polêmica atual, o “tamanho” das reproduções de Anitta já foram questionados no ano passado. No ano passado, um youtuber norte-americano chamado Scott Lowe já havia levantado suspeitas sobre os números de views e comentários do então lançamento Girl From Rio. Na opinião do youtuber, apesar do hit ter sido feito sob medida para o mercado norte-americano, dificilmente se via comentários de estadunidenses no YouTube ou em outras redes sociais da cantora, o que era, no mínimo, estranho.
Mas afinal, isso é proibido?
De um ponto de vista mais geral, não há nenhum crime no que foi feito pelos fãs da cantora. Apesar de ser visto como uma trapaça por alguns, isso só mostra a força que artistas como Anitta possuem hoje em dia, além do poder dos fãs. Mas isso muda de figura quando a finalidade é lucrar através do oferecimento de serviços automatizados para este fim. No ano passado, dezenas de sites que fraudavam plataformas de streaming musical e vendiam o serviço de inflar artificialmente o número de audições de músicas foram fechados após uma operação do Ministério Público de São Paulo (MP-SP). Na notícia publicada pelo portal G1, está foi a primeira vez que a prática de “fake streams”, em que músicos compram “plays” para suas músicas, foi tipificada como crime e virou alvo de uma ação comandada pelo Núcleo de Investigações de Crimes Cibernéticos do MP-SP no Brasil. Estes sites utilizavam bots para inflar as reproduções das músicas. Na ocasião, as autoridades brasileiras não divulgaram o nome dos sites que foram fechados, nem de músicos que compraram este serviço com o intuito de inflar os seus números no ambiente online. A ação, denominada Operação Antidoping ainda está em curso e terá um grande e árduo trabalho pela frente, já que muitos serviços com esta finalidade ainda podem ser encontrados com uma rápida busca no Google.
Spotify inicia investigações
Em resposta às denúncias de manipulação, o Spotify afirmou ter condições e ferramentas que podem revelar se houve “robotização” ou “fraude” por parte de fãs de Anitta no recorde mundial obtido no mês passado. A plataforma disse também que não irá mais se pronunciar sobre o assunto. Em nota, ela apenas afirmou que: Ela ainda completa dizendo que “há recursos de engenharia e pesquisas significativos para detectar, mitigar e remover a atividade de streaming artificial no Spotify para que nada atrapalhe nossa missão de dar aos artistas a oportunidade de viver de sua arte e para que os detentores de direitos sejam pagos da maneira mais justa possível. possível para o seu trabalho. A integridade disso é incrivelmente importante para nós, porque um fluxo ilegítimo significa que há artistas honestos e trabalhadores do outro lado que são afetados”. Apesar do Spotify afirmar ter todas as ferramentas para identificar possíveis fraudes, a plataforma não divulga publicamente o resultado dessas investigações. Os únicos a terem acesso a uma posição final são os artistas ou criadores de conteúdo envolvidos no caso.
Veja também:
A Billboard, uma das maiores referências sobre o mundo da música, elegeu as 10 melhores playlists de trilha sonora no Spotify. Confira! Fontes: Rest of World, G1.