O que significa essa queda no preço do petróleo?
Apesar de ser algo assustador em um primeiro momento, esse preço negativo é mais um reflexo do atual momento do setor, sendo muito mais uma valor “psicológico” – uma espécie de “bug do sistema” – do que uma tendência real de manutenção de preços negativos. Esse “bug” aconteceu por conta da forma como o sistema de venda de barris de petróleo funciona: as distribuidoras têm até a próxima terça-feira (21) para fechar os contratos dos barris que serão enviados no mês de maio, e como sempre acontece nesses momentos os especuladores forçaram uma queda de preço do produto na tentativa de vender os barris que estão sobrando para compradores de última hora. Mas como as refinarias (que são quem normalmente efetuam esse tipo de compra) já estão com seus estoques cheios, mesmo com essa queda no preço não houve interesse em se adquirir o produto. Assim, o preço dos barris – que há semanas orbitam na casa dos US$ 20 dólares – alcançaram um valor negativo devido a essa queda artificial dos preços numa tentativa de achar compradores. E, mesmo com o valor negativo, houve muito pouco movimento do mercado nesta segunda (20), o que é mais um indício de que este preço negativo foi apenas um erro do sistema, e não algo substancial. Sendo assim, ainda que o fato cause grandes manchetes e chame a atenção, ele não deve significar uma “nova era” no mercado de petróleo, e não irá afetar em nada o preço final da gasolina que o consumidor encontrará nos postos de combustível.
Momento histórico
O que mais choca os analistas é que já houveram outros dois grandes eventos que diminuíram muito o preço do petróleo, mas em nenhum outro momento o barril chegou a um valor negativo – mais um feito que só foi possível por conta da pandemia de COVID-19. Isso fica claro em um tweet de Bob McNally, presidente e fundador da Rapidan Energy (empresa de análise do mercado de combustíveis fósseis) que afirma que, ajustado para a inflação atual, os dois menores preços que o barril de petróleo já chegou historicamente foram o de US$ 6 (em 1931, no auge da Grande Depressão) e US$ 2,50 (nos meses de janeiro e fevereiro de 1862, durante a Guerra Civil dos EUA). Isto aconteceu principalmente porque, por conta da guerra de preços entre Rússia e Arábia Saudita, as refinarias continuaram trabalhando em capacidade máxima durante todo o mês de março e o começo do mês de abril, e apenas no dia 12 deste mês que os dois países, junto com todos os outros principais produtores da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), concordaram em diminuir a produção global de óleo em 10%. Mas, por conta da pandemia de COVID-19, a demanda pelo produto caiu em torno de 25% a 30%, garantindo que mesmo com a queda de produção essas refinarias ainda estejam disponibilizando uma quantia de petróleo maior do que o mercado necessita. E, como os países produtores demoraram para diminuir o ritmo de extração, todos os depósitos de óleo já estão cheios, e não há praticamente ninguém procurando pelo produto neste momento. De acordo com Louise Dickson, analista da Rystad Energy (empresa de pesquisa e análise de fontes de energia sustentável), este momento histórico ilustra perfeitamente a utopia que o mercado de petróleo vive desde o começo de março. Desde então o problema de excesso de oferta já era evidente, mas os produtores de petróleo escolheram ignorar os fatos, aumentando e abaixando os preços baseados em especulação e no pensamento otimista, e agora a realidade está exigindo que todos prestem atenção nela. Além dos países membros da OPEP e da Rússia, as refinarias do Canadá (que não fazem parte do tratado firmado no dia 12 de abril) também decidiram diminuir a produção, e diversos dos poços de extração na região de Alberta foram fechados nesta segunda (20) por causa do preço negativo do barril de petróleo. De acordo com Teodora Cowie, analista sênior da Rystad Energy, a decisão de se fechar poços de petróleo não é algo fácil. Isso porque as empresas deste setor são pensadas para conseguir trabalhar durante um certo tempo no prejuízo, e a decisão de se finalizar projetos de extração só é tomada quando não há uma previsão para o retorno à normalidade do mercado. Fonte: Washington Post